18 de fevereiro de 2010

Brincadeira infantil

foi um momento mágico, era a primeira vez...
toda a minha realidade tornou-se a um instante
um universo de infinitas possibilidades
alegres,prazerosas, únicas.

uma mistura de sensações antes, desconhecidas em mim
ganharam força e intensidades
aos poucos,inicialmente com certa desconfiança
fui conhecendo os seus mistérios

a dor da sua ausência
o prazer da realização
o toque sutil

mas por mais que nos desejássemos
tínhamos uma incurável certeza
não nascemos um para o outro, eu e a minha bola de futebol.

fim

a partida
já se anunciava
entre festins e serpentinas espalhadas pelo chão
sozinho se encontrava

o tempo voltava aos poucos a marcar a sua presença
os compromissos
direitos e deveres
martelavam a sua cabeça

desejoso lembrava-se das belas ancas
e seios fartos em que embebia-se durante as ultimas noites
ainda acreditava que o único verdadeiro sentido da vida
habitava as profundas sensações entre as pernas de uma mulher

estava aos poucos buscando retornar ao seu eixo
não estava acostumado a estes excessos temporários
e a sua vida sempre esteve hermeticamente planejada
mas algo havia mudado após aquelas noites
ele desconfiava que ainda iria desconhecer-se de si mesmo para sempre
a sua intuição lhe dizia que a vida em que ele viveu até agora não era sua.

não tinham passados muitos minutos quando ele percebeu que estava acordando.
ao seu lado uma mulher que nunca havia visto na vida em uma casa desconhecida ao som das ondas do mar se desconhecia a si mesmo.

15 de fevereiro de 2010

Um olhar a um personagem carnavalesco

Suor e lágrimas, talvez seria a mais presente e visível constatação
a respiração lenta quase inexistente denunciava algo mais que líquidos, vivida ainda estava...
os pés já fatigados
cansados
apesar de tantos bailados alegres
o corpo extenuado após a última excitação
não mais tencionaria os músculos e apenas agora teria o direito de relaxar a sua alma
e deixaria por um momento de prestar os seus labores carnavalescos
o sorriso tal como máscara não se desfazia da carne...
ainda sentiria o prazer na dor do merecido descanso
as coxas já anunciavam o seu pedido de perdão
as mãos e as bocas que tanto devoravam
agora calam em silencio
o som da bateria e dos gritos reverberam dentro de si
misturando-se a suavidade dos pássaros que despertavam
adormeceu a bailarina.

14 de fevereiro de 2010

Ainda sobre o Carnaval

A beleza torna-se muda,cega, e surda
apática e sem cores transita na passarela, nas ruas , nas casas
entre gritos e corpos suados
ao som da bateria ela relembra tempos idos
que os índios a idolatravam como deusa
que os gregos a tinham como a perfeição da alma
ela era perseguida por artistas
ela era a essência que animava a alma.
Hoje resignada e calada
sucumbe
a insana mente humana
fraca e torpe
debilitada
que a tudo soube racionalmente destruir.
Mas ainda há esperança,
após o carnaval,
ainda existirão mentes dispostas a criar e a destruir
E ela lá estará para receber ao nobre incauto
com o olhar aguçado e desprendido das mazelas que embotam a mente humana.

Carnaval

Caminham sofregas as máscaras, ainda que alegres, aparentemente alegres.
As ruas denunciam o lixo humano ávido de carne, fome e sede,as únicas divindades reais que todos adoram secretamente durante o ano e livremente durante o carnaval.
Durante meses esperavam ansiosos por estes momentos em que é possível esquecerem-se da miséria humana em que todos estamos até o pescoço.
As passarelas luminosas iludem o lodo.
O sentimento da Alegria gera lucro, fome,doença.
O grande Deus do carnaval é o canibalismo.
Fica decretado : o homem é o lobo do homem.